quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A astrologia e a nova física: integrando a ciência sagrada e a secular

Gratidão ao amigo Saulo Marcussi, que me enviou este texto sensacional. 

A todos os interessados e especialmente aos céticos de plantão, recomendo a leitura:












Ph.D. William Keepin 

- Introdução de
 ROBERT HAND:

"Nosso primeiro palestrante desta manhã será William Keepin, com quem tive o prazer de conversar há alguns anos atrás por cerca de um dia a um dia e meio aproximadamente. Foi uma das conversas mais significativas que tive na minha vida. Basicamente, temos aqui um ‘convertido’: William é Ph.D. em física e fez inúmeras importantes contribuições ao estudo da física moderna. Ele não é alguém que, sendo um mau físico, resolveu partir para a metafísica. Ele é um Ph.D. que, após ter se dedicado muito à sua especialidade, decidiu que era necessária uma busca metafísica, estando agora envolvido em relacionamentos entre conceitos ambientais e espiritualidade. Isto não é exatamente o que tem sido ensinado nos setores de física das escolas de graduação, embora a física de hoje em dia esteja como que apontando nessa direção. E William é um dos primeiros entre um número crescente de pessoas que cruzou a linha e uniu-se a nós, pessoas consideradas estranhas para a civilização moderna." 


WILLIAM KEEPIN:
"Agradecido, Bob, por esta brilhante introdução. É maravilhoso ser apresentado como um convertido. Na verdade, a última coisa que eu poderia imaginar até uns seis anos atrás seria estar dando uma palestra num simpósio sobre astrologia. Fui treinado como um cientista em física e matemática. Apesar de sempre ter estado aberto para algumas coisas, tais como expansão da consciência e conceitos budistas de nirvana e shunyata, a mais absoluta das insignificâncias para um cientista rigoroso é a astrologia. O que é verdadeiramente interessante, pois sinto agora que é precisamente na área da astrologia onde a ciência poderá vir a ter uma das maiores aberturas nas próximas décadas e séculos, dependendo de quanta resistência for encontrar. O que desejo fazer hoje é sublinhar uma "intimação" dessa possibilidade. 


Permitam-me discorrer um pouco sobre meu background astrológico, que é bastante limitado. Tive a grande sorte de estudar com Stanislav Grof por aproximadamente três anos e, durante seu curso, Rick Tarnas veio por uma semana e fez uma série de apresentações sobre astrologia, após o quê, comecei a estudar meu próprio mapa, olhando particularmente para aspectos e trânsitos, bem como mapas de familiares. Em resumo, fui sendo conduzido com grande critério e cuidadosamente por Rick. E lhe sou muito grato por isso, pois minha abertura para a astrologia realmente veio por seu intermédio. 

O momento-chave, meu momento inicial de transformação, veio ao observar o mapa de uma familiar muito próxima. Muitos anos antes ela tinha tido um surto psicótico, quando foi diagnosticada como esquizofrênica, tendo passado por consecutivas internações em hospitais psiquiátricos. Em seu mapa natal ela apresentava uma conjunção Marte-Urano em quadratura a Netuno, estando Netuno também em trígono a uma conjunção Vênus-Mercúrio. Quando ela teve este problema, Plutão estava se aplicando sobre seu Netuno, fomentando, portanto, a desafiadora quadratura à conjunção Marte-Urano. Daí que, precisamente em Novembro de 1982, no mês em que teve que ser internada, Saturno entrou em conjunção com Plutão também. Ela sofreu, portanto, os trânsitos de Saturno e Plutão em conjunção a Netuno, que é, claramente, um trânsito que só ocorre uma vez na vida, e teve, conseqüentemente, um tipo também único de experiência vital. Aquela constatação representou uma grande abertura para mim, levando-me a investigar mais de perto a astrologia, o que continuo fazendo até hoje. 

Quero, portanto, dizer que é para mim uma grande honra e privilégio estar aqui. O que lhes quero ainda acrescentar é que, quando fui me encontrar com Bob Hand, Rick estava me acompanhando. E, como Bob alertou, foi verdadeiramente uma das mais fascinantes discussões de que eu também tomei parte. Cobrimos uma ampla gama de tópicos e, em seguida, fomos Rick e eu, para uma conferência. Acho que nunca comentei a respeito com o Rick mas, no vôo de volta a Frisco, enquanto conversávamos, eu subitamente senti a profundidade do que estava se passando. Eu tive o sentimento muito distinto e claro de que a parte de trás de minha cabeça se abrira e de que tinha sido removida. Tive a sensação de estar numa comunicação muito direta com o sentimento cósmico ou comunhão na parte posterior de minha cabeça - foi quase como uma sensação física palpável. No momento, pensei apenas: "Nossa, que interessante!" Mas, retrospectivamente, sei dar o devido valor àquele momento. 

O que tenho a lhes oferecer hoje, mais que uma apresentação, é um tipo de meditação. Vou lhes fornecer algumas das idéias, pesquisas e contemplações que venho tendo nesses últimos seis anos em que tenho considerado a questão de "como poderia a astrologia ser validada". Ela parece tão em contradição com o que a ciência ortodoxa nos diz... 

Gostaria de iniciar enfatizando que a principal corrente científica não tem em verdade nada que desabone a astrologia. Os dois argumentos contumazes dados pela ciência são os de que não há evidências para a astrologia, nem mecanismos que a possam explicar. A "não-evidencia" é simplesmente falsa, primeiramente pelo trabalho de Michel Gauquelin. Tenho certeza de que todos vocês estão familiarizados com este trabalho estatístico. Por mais válido e importante que seja, baseia-se em estatisticas. E creio que algo do que veremos na próxima década será um questionamento das estatísticas em si, como formas válidas de epistemologia. De toda forma, há evidência científica para a astrologia. O segundo ponto, a respeito do "não-mecanicismo", baseia-se nos argumentos do tipo: o efeito gravitacional do médico sobre o recém-nascido foi maior do que o de Plutão na hora do nascimento. Portanto, se o médico nada tem a ver com a psique do indivíduo, como o poderia ter Plutão?... O argumento é, em senso estrito, válido; mas o que tudo isso demonstra é apenas o fato de que a astrologia não opera em termos de gravidade. Poderíamos argumentar similarmente sobre interações eletromagnéticas e mesmo nucleares. Chegaremos à mesma conclusão: é valida até onde conduz, porém não chega a tocar a verdadeira natureza dos fenômenos. E ela não elimina explicações alternativas. 

A astrologia não contradiz, em absoluto, qualquer dos fatos científicos como os compreendemos. Está em discrepância com a injustificada extrapolação daqueles fatos, com uma visão de mundo que se presume comprovada pela corrente principal dos cientistas ortodoxos, mas as quais, na verdade, são um conjunto de presunções sobre a natureza da realidade. A astrologia está em disparidade com tais pressupostos, mas não com nenhum dos fatos estabelecidos. 

Em 1975 aconteceu uma famosa declaração da astronomia contra a astrologia, assinada por 186 cientistas. Os que a assinaram, em geral, pouco ou nada sabiam sobre astrologia. Mas foi interessante ouvir algumas das histórias sobre aqueles que não a assinaram, tais como Freeman Dyson do "Instituto para Estudos Avançados" em Princeton. Ele recusou-se a assinar por simplesmente não saber. E Carl Sagan, que vocês todos conhecem como um homem de grande visão sobre os bilhões de estrelas do cosmos, creio que ele também recusou-se a assinar. Não tenho certeza absoluta quanto a isso, mas ele deu a seguinte declaração sobre a astrologia: "Bela forma de se descartar de alguma coisa, por não sermos capazes de compreender como ela funciona". O fato de não podermos pensar em nenhum mecanismo para a astrologia é relevante, mas não convence. Por exemplo, nenhum mecanismo era conhecido para o "continental drift" quando ele foi proposto por Wegener. No entanto, podemos ver que Wegener estava certo, e que aqueles que objetaram com base na inexistência de um mecanicismo estavam errados. Basicamente, Sagan deveria ganhar o crédito pelo reconhecimento de que não se pode descartar a astrologia simplesmente por não sabermos como ela funciona. Talvez vocês estejam familiarizados com alguns dos trabalhos de Percy Seymour, autor de alguns livros sobre ciência e astrologia, como "The Scientific Basis of Astrology". 

Não sou íntimo conhecedor de seu trabalho, mas li boa parte dele. A essência do que ele propõe é que a astrologia trabalha por uma espécie de interação de campos magnéticos. O que lhes estou oferecendo aqui é uma compreensão muito diferente. No meu entender, a astrologia verdadeiramente é muito mais profunda do que qualquer processo que ocorra no reino físico. Envolve alguma coisa que está além do reino físico, razão pela qual estamos agora ganhando evidência crescente em alguns dos novos desenvolvimentos em ciência moderna. E é sobre isso que quero lhes falar hoje. Tais desenvolvimentos são o trabalho teórico de David Bohm e os campos emergentes de dinâmica não-linear, e a "Teoria do Caos", particularmente, a "Geometria dos Fractais". Estarei lhes dando um exemplo adiante. 

Gostaria de iniciar com o trabalho de David Bohm em física teórica. Bohm nasceu em 1917. Foi um jovem e brilhante físico que estudou na Berkeley de Oppenheimer. Ele foi então para Princeton, tornando-se colega de Albert Einstein. E, de fato, ele e Einstein tiveram discussões intensas sobre o significado da teoria quântica. Bohm escreveu um livro sobre teoria quântica que foi publicado em 1951, e que foi considerado por Einstein a mais clara exposição sobre física quântica que ele jamais houvera visto. Os dois tornaram-se muito íntimos, tendo-se dado então um desenvolvimento muito peculiar. Bohm foi chamado a depor contra Oppenheimer durante o MaCarthysmo, ao que ele se recusou. Embora Oppenheimer tenha sido inocentado, Bohm perdeu seu trabalho em Princeton e teve que deixar o país. Assim, sua associação com Einstein foi efetivamente rompida. Em seguida, Bohm foi para o Brasil, depois Israel e terminou na Universidade de Londres, onde desenvolveu a maior parte de seu trabalho. Sua contribuição básica para a física e para a ciência em geral é ainda muito menosprezada e e eu proponho que ela nada mais é do que uma compreensão completamente nova do que a ciência significa e do que ela é. Gostaria de resumir suas contribuições. 

Primeiramente, um comentário sobre a maneira como Bohm trabalhava. Ele tinha uma ânsia apaixonada e flamejante pela busca do saber, por uma compreensão profunda sobre a natureza da realidade e da existência, o que o conduziu para muito além dos limites da física. Como muitos de vocês devem saber, ele conduziu um diálogo de 20 anos com o místico e sábio hindu Krishnamurti. Ele mantinha também diálogos extensivos com outros mestres espirituais, inclusive o Dalai Lama. E ele terminou desenvolvendo uma compreensão teórica da física moderna que é verdadeiramente consistente com os ensinamentos espirituais de eras atrás. E igualmente rica e complexa. 

O que me propus a fazer hoje é simplesmente sublinhar alguns dos fundamentos de seu entendimento. A natureza básica da realidade, de acordo com David Bohm, é aquilo que ele denominava "holomovimento" - holo, significando holográfico, emovimento sugerindo dinamismo e processo. Para usar suas palavras, a natureza da realidade é "uma única e inquebrantável integridade em movimento de fluxo". Desta forma, tudo está conectado e tudo está em fluxo dinâmico. Já nesse termo holomovimento, ‘holo’ refere-se à estrutura holográfica, significando que cada parte do fluxo, de alguma forma, contém o fluxo como um todo. Nós estaremos procurando por alguns exemplos sobre o que tal coisa poderia significar. E a parte ‘movimento’ do holomovimento é que o inteiro fluxo está numa constante mudança processual. Bohm desenvolveu esta idéia a partir de sua re-interpretação da física quântica. Muitos de vocês leram alguns dos célebres trabalhos de Fritjof Capra e Gary Zuk e sobre aquela inteira abertura que aconteceu ao final dos anos 70 e início dos 80, a respeito das implicações essencialmente místicas da física moderna. 

O feito de Bohm foi no mínimo tão importante quanto; porém não foi reconhecido como tal. Ele iniciou com a equação de Schroedinger, que é a equação central da teoria quântica, e a subdividiu matematicamente em duas partes. A primeira parte era essencialmente uma recapitulação da física newtoniana clássica, e a segunda era um campo informativo em forma de ondas (wave-like information field). A equação de Schroedinger é uma equação para o movimento do elétron e oferece um insight em questões tais como: "Como o elétron se comporta?", e "Qual é a natureza do elétron?"... Bohm postulou que o elétron se comporta exatamente como uma partícula clássica comum, contrariamente à teoria totalmente complementar de Neils Bohr sobre a dualidade onda-partícula e a escola de interpretação de Kopenhagen. Bohm dizia que o elétron comporta-se, sim, como uma partícula, mas tendo acesso à informação sobre o restante do universo. Esta é a parte que os físicos têm dificuldade em aceitar, como vocês podem imaginar, pois o elétron está essencialmente agindo com uma espécie de consciência em relação ao resto do universo. Tal consciência vem neste segundo termo, que Bohm denominou de potencial quântico, e que é um campo informativo em forma de ondas (wave-like information field) que fornece ao elétron acesso a informações sobre o restante do universo físico. Bohm foi capaz de demonstrar que a influência desse potencial quântico dependia apenas da forma e não da magnitude dessa forma de onda. E por não depender da magnitude era, portanto, independente de separação no espaço. Portanto, todo e qualquer ponto no espaço tinha uma contribuição a fazer à consciência do elétron. 

Se tal coisa faz algum sentido, a essência é que o elétron é um tipo de partícula guiada. De fato, Bohm usa a analogia de um avião 747 voando sobre um oceano. Ele é guiado por ondas de rádio. As ondas de rádio, elas mesmas não têm a energia para fazer com que um avião se desvie e altere seu curso, mas provêm a informação da qual a aeronave se utiliza para responder e ajustar seu curso. Portanto, as ondas de rádio contêm muito menos energia do que a aeronave, num sentido físico. Mas a informação que elas contêm possibilita à aeronave guiar e conduzir sua própria energia. Essencialmente é este o mesmo tipo de entendimento que Bohm tinha acerca do elétron. Bohm chegou a propor posteriormente que o holomovimento que eu mencionei consistia de duas partes: uma ordem explícita e outra implícita. Irei esclarecer essa diferença com um exemplo que o próprio Bohm desenvolveu. 

Imaginem uma jarra cheia de fluido muito denso, tipo glicerina, um líquido altamente viscoso. No centro da jarra há uma vareta cilíndrica com uma manivela, de tal forma que você poderá fazer a vareta girar. Adicione uma gota de tinta à glicerina, e a tinta simplesmente permanecerá ali. Mas quando você fizer girar o cilindro interno, ele irá puxar a gota de tinta e espalhá-la. Se você continuar girando, a tinta irá se espalhando em linhas longas, cada vez mais finas e apagadas. Eventualmente, caso você continue esse procedimento, a tinta efetivamente chega a desaparecer por completo. Você não mais poderá vê-la. Agora, neste ponto, é muito tentador concluir que a ordem que existia originariamente presente na gota foi completamente dissolvida ao acaso e de maneira caótica pela completa mistura da tinta à glicerina a tal ponto que você nem mesmo pode ver mais a tinta. Contudo, se você nesse ponto reverter a direção rotativa, descobrirá que a fina e longa linha de tinta começará a reaparecer. À medida que você continuar a reverter a rotação, ela continuará a se tornar cada vez mais espessa e mais claramente definida, e eventualmente chegará a se reconstituir. 

Pois, esta é uma metáfora mecânica para aquilo a que Bohm se refere. O que nos diz é que uma ordem oculta pode estar presente no que aparentemente é caos. Este é um insight muito importante que Bohm teve, portanto eu gostaria de repetí-lo. Com referência a este exemplo bem como à realidade em geral, o que parece casual pode, efetivamente, conter uma ordem oculta. E a menos que sua rede epistemológica seja suficientemente fina, ou suficientemente ampla, você irá perder a ordem que se oculta. Bohm denominou a tal ordem de "ordem implícita", pois embora a tinta se disperse a ponto de não mais ser visível, sua ordem foi, de alguma maneira, preservada. Ou, seria mais conveniente dizer ter sido ela transformada numa forma diferente, mas não foi destruída. E ela pode mover-se, de implícita para explícita, onde a ordem original torna-se então visível e manifesta. Então teremos novamente a gota de tinta reaparecendo. Quando ela desaparece, Bohm diria que sua ordem está envolvida na glicerina. Ao reaparecer, sua ordem se recompõe à ordem explícita. Eu estarei me utilizando desses termos, de tal forma que gostaria que vocês se familiarizassem com eles. O relacionamento total entre as ordens implícita e explícita é verdadeiramente complexo, e eu apenas direi poucas coisas a esse respeito. Se você estiver se debatendo para encontrar um modo de compreendê-lo, uma forma muito simples é imaginar que a ordem explícita é o reino manifesto; é o universo espaço-temporal em que vivemos. Portanto, a ordem implícita é o que não se vê, o reino do não-manifestado. É, talvez, tentador, pensar na ordem explícita como a realidade primária, e a implícita como uma realidade secundária sutil. Para Bohm, justamente o oposto é o caso. A realidade primária fundamental é a ordem implícita, e a explícita apenas um conjunto de ondulações na superfície da ordem implícita. De tal forma que, aquilo que podemos ver e sentir e tocar são meramente as ondas na superfície da realidade, que é o vasto oceano da ordem implícita. 

Outra maneira possível de se pensar sobre isto seria em termos da nossa velha conhecida rede televisiva. A ordem implícita é essencialmente toda a programação sendo transmitida a um dado momento, e a explícita aquilo que aparece na tela naquele preciso momento. Portanto, a ordem explícita é apenas uma janelinha estreita daquilo que realmente ali está - uma partezinha ínfima que se manifesta num mar de possibilidades - e a realidade inteira existe na ordem implícita.

Outro ponto enfatizado por Bohm é o de que o espaço vazio é parte do todo - esse movimento de fluxo incessante. O espaço vazio não é apenas um gigantesco vácuo através do qual a matéria se move, mas antes, espaço e matéria estão intimamente contectados. Esta é uma maneira muito importante de se reconsiderar a ontologia do assim chamado "espaço vazio". Bohm verdadeiramente efetuou alguns cálculos demonstrando que cada centímetro cúbico do assim chamado "espaço vazio" contém mais energia potencial do que toda a energia que se encontra manifestada no universo. Da forma como ele coloca a coisa, o espaço é cheio, preferivelmente a vazio. 

Creio que isto lhes deu alguma idéia sobre o pensamento de David Bohm. O que quero fazer agora é penetrar num exemplo mais concreto da estrutura holográfica. Para fazer isso, irei me utilizar de um exemplo da "Teoria do Caos" e da "Geometria Fractal". Este exemplo é conhecido como o "Mandelsbrot Set". Muito do que estou dizendo, em certo sentido, não será novidade para a maioria de vocês. Como astrólogos, intuitivamente vocês conhecem isso. O ponto principal de minha apresentação hoje será demonstrar-lhes de que maneira certas direções na ciência estão emergindo em direção a uma compreensão paralela. O "Madelbrot Set" é assim denominado em honra ao maremático francês Benoit Mandelbrot. Ele é gerado por um processo não-linear de repetição. O processo em si é incrivelmente simples. Basicamente, você o inicia com um número, eleva-o ao seu quadrado, somando a ele, então, uma constante. O que lhe fornecerá outro número. Então, você eleva esse novo número ao quadrado, soma-lhe a constante, o que lhe dará um terceiro número, e continua repetindo este processo. Se tal seqüência permanece limitada, isto é, se ela não se extrapola ao infinito, então o ponto por onde você começou é considerado o "Mandelbrot Set". Ele está na área negra. Se ele efetivamente se extrapolou ao infinito, então estará fora do conjunto (set), na área branca. Caso você não entenda a matemática, não se preocupe. Não é importante para o que estou querendo lhes demonstrar. 

Vamos agora fazer um "zoom" nesse "Mandelbrot Set" da ordem de cerca de um bilhão de vezes, e então você verdadeiramente poderá visualizar a estrutura desse conjunto. Conforme "mergulhamos" nele, você poderá começar a ver algumas regularidades estruturais muito bonitas, e também alguns padrões que se repetem em diferentes escalas. Você notará também que esses pequenos padrões começarão a assemelhar-se a algumas partes da estrutura original. Para dar continuidade ao nosso processo "zoom", eu gostaria de imergir em um desses pequenos pontos brancos reluzentes e, como você poderá ver, existe efetivamente algo de intrínseco, de delicadeza, de graça e de elegância nesta estrutura. Prosseguindo, você irá notar que em meio a isto, existe um outro pequeno ponto branco, de tal forma que agora iremos dar um "zoom" exatamente ali, e então vocês poderão notar que alguma coisa está emergindo. Se você examinar atentamente o centro daquele ponto branco, você verá o reaparecimento da figura original, de tal modo que, aqui, temos exatamente a mesma estrutura replicada numa escala um bilhão de vezes menor. Em matemática, chamamos a isto de "estruturas auto-similares" ou "nested sets". Em alquimia e astrologia, chamamos a isto "Como acima, assim abaixo" (As above, so below). Em certo sentido, a ciência está agora começando a descobrir, por intermédio de certos desenvolvimentos recentes, alguns dos antigos ensinamentos e sabedorias. 

Quero dizer mais sobre a natureza disso. No exemplo de Mandelbrot, lembrem-se de que demos um "zoom" de cerca de um bilhão de vezes e encontramos uma estrutura que virtualmente se assemelha ao todo. Contudo, se inspecionarmos mais de perto, constataremos não ser idêntica. Ela é ligeiramente diferente, e não apenas isso: se você ampliar qualquer uma dessas pequenas outras partes da mesma estrutura, novamente encontrará esses pequenos conjuntos de Mandelbrot que ali jazem. Literalmente, existem bilhões deles. De fato, há uma infinidade deles, pois cada um deles contem bilhões dentro de si, e o processo de mundos dentro de mundos se prolonga. O que temos aqui é um conjunto muito profundo de estruturas auto-similares aninhadas (nested self-similar structures). Os cientistas iriam apresentar a coisa assim. 

Temos aqui um tipo de evidência para a noção alquímica "As above, so below". Mais que isso, tal fato revela a bancarrota ontológica do reducionismo. A filosofia básica do reducionismo, que prevalece na ciência ortodoxa, insiste em que, caso queiramos compreender um sistema complexo, devemos seccioná-lo aos pedaços para torná-lo mais simples. O que estamos descobrindo aqui é que, quando quebramos o todo em pedaços, cada pedaço revela-se tão complexo quanto o todo original. E isto é uma compreensão muito diferente. Agora você poderá começar a visualizar o que queremos expressar com a idéia de que cada parte contém o todo. Pois ao darmos o "zoom" numa dessas partículas mínimas do "Mandelsbrot Set", que representa um bilionésimo do tamanho do total, ela apresentará uma estrutura idêntica. O microcosmos tem, essencialmente, todos os elementos do macrocosmos. Contudo, quero enfatizar que cada parte contém o todo, não a nível manifesto, mas a nível de processo. Aquela partícula ínfima de Mandelbrot não contém a outra, enorme, num sentido físico. Ela é pequenina demais para isso. Mas, a nível processual, as duas são virtualmente idênticas. 

Agora, qual o significado disso tudo, e o que significa em termos astrológicos? Aqui tenho que convidá-los a um tipo de vôo ou fantasia metafórica. E é o que eu quis dizer ao expressar que minha exposição seria meditativa, requerendo um pensamento imaginativo. Gostaria de convidá-los a considerar este "Mendelbrot Set" como uma espécie de cosmos. Pensemos em cada minúsculo conjunto de Mendelbrot como um ser humano. Então, se alguém adentrasse e contemplasse profundamente a natureza da existência de alguém, chegaria à consciência do processo que gerou aquela existência. Ao atingir tal consciência, apreenderíamos então o processo do cosmos como um todo, pois eles são um e o mesmo processo. É como aquilo que os budistas tântricos dizem: "Se você chegar a compreender o corpo humano de maneira suficientemente profunda, você terá compreendido o Universo". E eles não estão se referindo ao conhecimento físico. Estão se referindo a um saber a nível energético, a nível processual. Neste caso ele é representado pela equação simples de Mandelbrot, que é a ordem implícita. 

Até o momento, estes conjuntos de Mandelbrot que estivemos examinando são estruturas estáticas. Elas são estruturas matemáticas fixas, imutáveis. Agora, passemos a imaginar que aquelas estruturas e processos subjacentes estão ambos se desenvolvendo no tempo. Imagine que tal processo - a ordem implícita - está se alterando através do tempo e que, portanto, a estrutura de Mandelbrot - a ordem explícita - está, ela mesma, se transformando através do tempo. Eu cheguei a procurar por alguns vídeos que representassem este esquema mas não consegui encontrá-los. Nem ao menos sei se isso já foi representado matematicamente. Mas basicamente a idéia seria a de que à medida que o processo subjacente a tal manifestação se desdobra e modifica, então esta estrutura inteira iria acompanhar tal desdobramento e modificação num tipo de dinâmica fractal. Vocês podem então imaginar que cada uma dessas ínfimas partes subjacentes se altera e desenvolve de uma maneira que estará diretamente correlacionada com a evolução do macrocosmos como um todo. Neste sentido, começamos a compreender como poderiam existir correlações entre a evolução do macrocosmos, isto é, o movimento dos planetas, por exemplo, e a evolução de uma parte individual daquele macrocosmos, ou seja, um ser humano. 

Isto conduz a um tipo de compreensão metafórica de como a astrologia poderia funcionar, e realmente funciona, de uma maneira não-mecanicista. Isto é muito importante de ser compreendido. Não é que Plutão envie irradiações para dentro de seu cérebro, que atuaria como um rádio-receptor, apreendendo-as, e então você sai a fazer coisas plutonianas. E não significa também que Plutão esteja dentro de você, no sentido de que Plutão é excessivamente grande para estar contido em seu corpo físico. É que o processo que está ocorrendo em Plutão está ocorrendo em você também. Literalmente. Assim, Plutão está literalmente contido em você, e em mim, mas a nível de processo, não a nível de manifestação. 

(Em resposta a uma pergunta inaudível da audiência, Dr. Keepin responde) O conjunto de Mandelbrot é verdadeiramente um objeto bidimensional, que existe no complexo plano das matemáticas. E existe outra limitação para esta metáfora como um todo que eu quero mencionar aqui. Basicamente o que eu estou tentando sugerir aqui é que, de forma muito vaga, isto nos dá um modelo para compreendermos alguma coisa sobre a natureza do modelo de funcionamento da astrologia. O que significa que temos um processo gerador, ou ordem implícita, e então temos um reino manifesto. E à medida que tal processo se altera no decorrer do tempo, resulta num desdobramento cósmico que tem correlações temporais entre as manifestações microcósmicas e macrocósmicas. Mas, como vocês sabem, uma certa configuração astrológica arquetípica pode resultar numa variedade de diferentes manifestações, dependendo das intenções, do ser, e da integridade da pessoa envolvida. De tal maneira que a coisa é muito mais complexa que isso. Aqui só pretendemos dar uma visão simplista de como certas coisas poderiam estar funcionando. Só gostaria de acrescentar algumas poucas coisas, e então encerrarei para que tenhamos tempo para perguntas e respostas. 

Existe um tipo de estrutura holográfica para grande parte da astrologia, e eu apenas mencionarei algumas poucas. Uma é a idéia dos três planetas superiores serem as "oitavas maiores" dos planetas pessoais - Netuno a oitava de Vênus e Plutão a oitava de Marte. Na medida em que haja alguma validade para isto - não desejo retratar o caso como uma verdade literal - refletirá relacionamentos de estruturas auto-similares em diferentes escalas. De modo parecido, com relação a progressões, um ano inteiro é essencialmente representado pelo movimento do Sol num único dia. Existe um modo pelo qual o tempo também tem sua estrutura fractal. De fato, David Bohm afirmou que cada momento do tempo contém todo o passado e todo o futuro. O tempo não é uma corrente de fluxo fixa, o que é intrínseco à ordem explícita. Antes, o tempo é um tipo particular da ordem explícita que se desdobra como uma seqüência de eventos, sendo que passado e futuro são medidas da profundidade da implicitação. Além disso, o tempo possui sua própria ordem implícita que Bohm denominou de "ordem eterna", e que se situa além de todo o tempo manifestado. Vocês podem começar a ver como cada explicação tem uma implicação maior, e por aí vamos indefinidamente, para níveis ainda mais sutis. 

No caso da astrologia, podemos encarar os arquétipos como um tipo de ordem implícita, e quando eles se tornam explícitos, passam a ser os próprios eventos manifestados. Mas poderia existir também uma ordem super-implícita, superior a todos os arquétipos, e que os ordenaria. Portanto a coisa se torna muito complexa, e Bohm, em verdade, chegou a desenvolver a idéia da ordem super-implícita que irei simplesmente mencionar, mas não chegando a esmiuçá-la. Ainda um outro exemplo de estrutura do tipo holográfica em astrologia é o seguinte: você pode fazer uma leitura de mapa baseado simplesmente em quais signos os planetas se encontram. O signos realmente fazem referência ao cosmos como um todo, uma vez que eles essencialmente dividem o universo em doze setores. Por outro lado, você poderá também fazer uma leitura com base nos próprios aspectos e nos pontos médios. No último caso, você estará apenas encarando a nível do Sistema Solar, e não além. Na verdade, é possível ignorar completamente os signos, e ainda assim obter uma leitura bastante acurada. Portanto, a mesma informação está contida em diferentes níveis e, de alguma forma, replicada a nível do Sistema Solar, bem como a nível cósmico. 

Agora, há um ponto final que desejo mencionar acerca do trabalho de David Bohm. É um ponto muito importante e que não é enfatizado em muitos dos escritos feitos a seu respeito. Bohm acabou chegando a esta idéia de um tipo tripartido de ontologia. O que em síntese ele coloca, é que a realidade consiste de matéria, energia, e significado. A compreensão física comum em ciência é a de que o universo consiste de matéria e energia, e Einstein chegou à gloriosa equação desses dois termos com E=mc2. O que Bohm diz, contudo, é que o significado tem a mesma primazia ontológica que matéria e energia. Deixem-me fornecer-lhes uma citação original. Bohm diz: "A energia compreende matéria e significado, ao passo que a matéria compreende energia e significado. (Quando você escutar esta palavra, "compreende", pense na gota de tinta desaparecendo na glicerina). Mas também, significado compreende ambos, matéria e energia. De tal forma que cada uma dessas três noções básicas abrange as outras duas." 

O que Bohm está propondo aqui é um tipo de interpenetração de matéria, energia e significado. Ele prossegue dizendo: "Isto implica num contraste em relação à visão comum, qual seja, o significado é uma parte inerente e essencial de nossa realidade como um todo, e não meramente uma qualidade puramente etérica e abstrata que tem sua existência apenas a nível mental, ou, para colocar de outra maneira, na vida humana. Quase sempre, significar é ser. Em certo sentido, poderíamos dizer que nós somos a totalidade de nossos significados." 

Para Bohm, a natureza da realidade é esta interpenetração de matéria, energia e significado. O reino da matéria-energia é a ordem explícita, ou reino manifesto. O reino do significado é a ordem implícita, e existe uma interpenetração entre ambos. 

Gostaria de mencionar ainda que é daqui que tiro alguma esperança para a possibilidade de "salvar o planeta". A maior parte de meu trabalho é sobre ciência ecológica, e se você considerar os fatos objetivos da crise ambiental, verá que ela é muito, muito preocupante. E se você adotar o ponto de vista científico comum, de que temos que consertar o planeta inteiro de modo incrementador, pedaço por pedaço, nenhuma esperança resta. Porém, se você imaginar que alguns poucos dentre nós, bem intencionados pequenos Mendelbrots, seremos capazes de ser suficientemente auto-conscientes e entrarmos em contato com o processo que permeia toda a realidade manifestada, penetrando na essência em si do próprio processo criativo da Natureza, e trabalhando nesse nível - isto é o que se poderia chamar de espiritual, ou de amor, ou seja lá o que for - então poderíamos talvez ser capazes de afetar a própria evolução desse processo! 

Estou consciente de que esse deve ser um longo caminho, mas adotando tal proceder poderíamos ser então capazes de obter um efeito muito além de nossos números. E existe precedente para tanto em termos cosmológicos. Por exemplo, todo o hidrogênio que há no mundo apareceu instantaneamente. Não havia hidrogênio e então, subitamente, o hidrogênio apareceu em tudo quanto é lugar, simultaneamente. O mesmo em relação às galáxias. As galáxias não existiam até que em determinado momento todas despontaram, cristalizadas e condensadas sob um formato. Essencialmente, elas se manifestaram a partir da ordem da implicidade em todos os lugares e ao mesmo tempo. Nesse mesmo sentido, através de uma ação profundamente intencional no mundo, penso que algumas poucas pessoas podem potencialmente causar uma diferença bastante significativa. As massas chamariam a tal coisa intervenção divina. Encarariam isso como algo incrivelmente mágico, mas não se trata de intervenção divina, e sim de divina arquitetura: é o modo como a realidade está estruturada. E sabendo disso, e trabalhando a nível processual, ao invés de meramente ao nível da manifestação, poderemos começar a atingir aquele ordenamento mais profundo da realidade. 

Assim, para finalizar, gostaria de passar-lhes uma visão positiva do futuro da ciência. Primeiramente, o que vem a serciência? Ciência é um tipo de reconhecimento-padrão, e o que ele requer, o sine qua non para a ciência, é a existência de algum tipo de ordem. Existe uma ordem básica no reino material e assim temos a ciência ortodoxa, resultante do estudo da ordem em termos de matéria e energia. 

Pelo mesmo enfoque, existe também uma ordem no significado. O significado é ordenado, não arbitrário. Há inúmeros diferentes exemplos disto, sendo um deles a beleza da música de Mozart em comparação com a de Salieri, e que se constitui num fato objetivo. Mas isso não pode ser mensurado com instrumentos de laboratório e nem através de uma tomada microfônica. Nem a análise de Fourier das formas de ondas advindas daquele microfilme jamais o habilitariam a distinguir entre a música de Mozart e a de Salieri em termos da essência do gênio ou da beleza. Porém, ela está ali. 

A astrologia, em certo sentido, é uma ciência da ordem do significado que interpenetra o universo físico espaço-temporal. E nisso, penso, reside o fato de ela ser tão profunda. Pois de certa forma, todas as ciências esotéricas, tais como o I Ching, o tarot, e outras, são ciências da ordem do significado. Elas são essencialmente modelos da ordem implícita, em certo sentido. Mas o que existe de tão profundo na astrologia é em virtude de sua conexão com planetas e estrelas, o que precisamente modela a interpenetração entre os reinos invisíveis do significado e o universo físico espaço-temporal. 

Portanto, o que eu prevejo, ou talvez, pelo que eu rezo, para o futuro da ciência? 

Essencialmente, uma grande síntese de ciências explícitas e implícitas. A ciência ortodoxa de hoje em dia passaria a ser vista como uma ciência parcial, limitada à ordem explícita. Ela se foca sobre aquelas partes que vemos em nosso redor e erroneamente tomamos pela realidade total. Por outro lado, a astrologia e as demais ciências esotéricas são ciências da ordem implícita, e não apenas não contradizem as ciências físicas, como astrologia e física são dois aspectos de um só e muito mais abrangente Todo. Isto eventualmente conduzirá a uma grande síntese das ciências sagradas com as seculares, numa ciência muito mais profunda do que a que temos hoje. Obrigado."



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