quinta-feira, 20 de junho de 2013

Esquizofrenia, paranoia e manipulação: uma reflexão psicológica e astrológica sobre as Manifestações




Mas o que significam estas manifestações? Isto está uma confusão. Cada um fala uma coisa, cada um tem sua própria causa, as pessoas parecem perdidas. São muitos gritos de guerra, falando sobre os mais diversos assuntos, sobre tudo e nada ao mesmo tempo. A causa pela qual estão lutando é o preço da passagem? Mas ninguém se importou com isso até agora, porque resolveram, do nada, fazer um auê tão grande? Mas o país não tava crescendo? O país nunca esteve tão bem. O  país nunca esteve tão mal. É a revolta da vingança ou a revolta do vinagre? A polícia é só mais uma vítima ou são os verdadeiros vândalos. O movimento é da direita ou da esquerda? É apolítico ou apartidário? Revolucionário ou reacionário?

Outro dia li uma matéria, no jornal espanhol El Pais dizendo que o Brasil estava esquizofrênico, e que as manifestações que estão acontecendo aqui são um sintoma desta esquizofrenia.

Em meio a tantas vozes, fica difícil mesmo entender o que está acontecendo. O clima é de confusão, excitação, medo, raiva, violência, euforia, empolgação, animação, guerra, festa. O contato com tantos sentimentos ao mesmo tempo me faz lembrar a primeira vez que vi uma esquizofrênica no hospital psiquiátrico, quando estava na faculdade de psicologia. Nossa, aquilo me incomodou tanto,  a loucura daquela mulher me invadiu com tanta força, que tive que pedir pra sair da sala e respirar lá fora, com medo de desmaiar. Como podem conviver com tanta força dentro de alguém sentimentos tão contraditórios?

O paradoxo e a contradição perturbam justamente por isto.  Não estamos acostumados, não temos estrutura para suportar a convivência dos opostos justamente porque desde cedo somos ensinados a separar o certo do errado, o bom do mau. Nossa consciência é formatada dentro de um sistema lógico e linear, binário, do tipo “ou/ou”. Ou amor ou ódio, não se pode acender uma vela pra deus e outra pro diabo. Porém, na vida, no cotidiano, não funciona bem assim. As coisas são bem mais complexas e muitas vezes somos obrigados a conviver com paradoxos. Mas, como não temos um modelo mental acostumado a lidar com isto, muitas vezes acabamos “pirando”.

            O antropólogo Gregory Bateson percebeu isto quando formulou sua teoria a repeito da esquizofrenia e do duplo vínculo.  Segundo Bateson, o duplo vínculo acontece quando uma pessoa se vê diante de mensagens simultâneas de amor (aceitação) e de rejeição. O  fato de tais mensagens serem contraditórias, faz com que quem as receba fique confuso. Este quadro é frequente no meio familiar e ocorre, em especial, entre pais e crianças, e segundo Bateson, muitos adultos jovens que desenvolvem esquizofrenia, tiveram histórico de relações de duplo vínculo com os pais na infância. Estas mensagens vêm na forma de frases como “nós te amamos, mas temos de castigá-lo, porque senão você vai se comportar mal, e não queremos que você se comporte mal porque queremos continuar gostando de você”. A criança, que ainda não tem o ego e nem todas as funções cognitivas bem formadas, fica confusa diante de tais mensagens e dos sentimentos que elas provocam. Diante disto, a criança se vê sem saída. Se correr o bicho pega, se fica o bicho come.  A mensagem lhe parece confusa e sua capacidade de ser amada parece ameaçada, isto torna a realidade muito assustadora, e ela não consegue se adaptar, encontrar uma saída para o paradoxo. Então, procura modificar a realidade para que ela pareça menos ameaçadora, e o resultado disto, a longo prazo,  pode ser a alienação mental. A criança vai aprendendo a ver e interpretar o mundo e as mensagens de forma distorcida, com base nas relações traumáticas de duplo vínculo.

Segundo Bateson, o problema maior não é o paradoxo em si, mas o fato de a pessoa se ver sem saída diante dele, de não poder questionar, comentar as mensagens recebidas, sob o risco de perder o amor ou a aceitação. Em última análise, trata-se de uma questão de comunicação, pois se a criança pudesse questionar, poderia entender, discriminar, esclarecer, escolher uma alternativa e descartar a outra, ou de  integrá-las de forma a encontrar um sentido na mensagem. Na impossibilidade de questionar,  após um longo tempo de convivência  numa relação de duplo vínculo, os esquizofrênicos adotam uma saída radical: afastam-se do mundo real.

As relações interpessoais consistem em receber mensagens, comentá-las, questioná-las, e entendê-las, debatê-las. Na impossibilidade da comunicação, da troca, da inclusão, surge a esquizofrenia e o afastamento da realidade.

De uma certa forma, isto é exatamente o que a mídia, a comunicação de massa e seus veículos, especialmente a televisão,  fazem conosco, contribuindo para produzir uma sociedade esquizoide. Massificando mensagens e padronizando respostas, impede a troca, o questionamento, o debate, a diversidade mental  e  a criação, mantendo o condicionamento da nossa cultura pelo pensamento binário.  Ou isto ou aquilo, o certo ou o errado, o mocinho ou o bandido, o herói ou o vândalo.

Na esquizofrenia, existem três tipo de comportamento principais diante de uma mensagem contraditória : o primeiro consiste em procurar para tudo um subtexto, ou seja, imaginar que toda mensagem tem algo “por trás”. Isto leva a uma conduta de suspeita e desconfiança constantes, típicos da esquizofrenia paranoide.

O segundo comportamento revela um padrão de pensamento que é concreto e infantil. Leva tudo ao pé da letra, e se você fala ao pé da letra, a pessoa vai procurando onde fica o pé da letra. Tudo é motivo de riso, o que é típico na esquizofrenia hebefrênica.

O terceiro comportamento consiste em ignorar as mensagens, afastando-se de tudo e encastelando-se no mundo interior. É  caso da esquizofrenia catatônica.

Se pensarmos no que está acontecendo em nosso país como um caso de esquizofrenia, temos o governo e a mídia nos transmitindo mensagens contraditórias o tempo todo, para nos confundir.  Nunca conseguimos saber ao certo o que está acontecendo. A polícia desce o cacete, mas o governo diz que é para a nossa própria proteção, para a manutenção da ordem, para nos proteger dos bandidos baderneiros, especialmente durante manifestações populares.

O tempo todo nos são transmitidas mensagens do tipo: o país está crescendo, a economia está crescendo e para  isso são necessárias obras como Belo Monte. Só que pra isso teremos que, alterar o curso do rio, sacrificar a fauna e a flora da região, além de expulsar para outras regiões vários povos indígenas, ribeirinhos, pequenos agricultores, afetando a natureza e a população de forma irreversível. Mas isso é necessário para o desenvolvimento do país, vai gerar empregos e vai ser muito bom pra todo mundo.

O governo vai investir milhões nos transportes públicos, por isso é necessário o aumento da passagem. Mas boa parte dos transportes públicos estão nas mãos de empresas privadas, ficam cada vez mais sucateados. Podemos até diminuir o preço da passagem, mas teremos que tirar recursos da saúde, e não gostaríamos de fazer isso, mas já que vocês exigem....

Pesquisas mostram que o povo está muito satisfeito com o atual governo, pois o país nunca esteve tão bem, mas levantam-se manifestações populares em todo o país com as mais variadas reivindicações. Mas isso só acontece devido a ação de vândalos que só querem depredar o patrimônio público.

Mediante tantas mensagens contraditórias, o país reage esquizofrenicamente, ora com desconfiança, ora fazendo piada de tudo sem levar nada a sério, ora simplesmente ignorando o que acontece ao seu redor.
Alguns dos sintomas da esquizofrenia são:

Ouvir vozes e ver coisas que os outros não veem. Ter pensamentos, sentimentos como conhecidos ou partilhados pelos outros. Achar que forças sobrenaturais influenciam seus pensamentos e ações. Não conseguir separar com nitidez o que pensa daquilo que acontece. Apresentar afetos inadequados ou embotados. Não apresentar um senso de individualidade, unicidade ou direção de si mesmos firmes. O humor se expressar de forma superficial, caprichosa, incongruente ou ambivalente. Perturbações da vontade como inércia, negativismo, estupor.

Alguns fatores geradores de esquizofrenia são a incapacidade de:

Dar importância ou tentar seguir a vozes contraditórias. Tentar reagir ou entender tudo o que se percebe. Ter que separar nitidamente o que é pensamento do que é realidade e ação. Não poder ter dúvidas, incertezas, questionamentos.  Não poder dividir, falar, compartilhar. Não poder se ver múltiplo e um ao mesmo tempo. Não poder ter ou não suportar dentro de si sentimentos contraditórios.

A imposição de uma norma, de uma forma única e fundamentalista de ver as coisas leva ao pensamento rígido e binário, que impede outras interpretações. É exatamente o que faz a mídia com a nossa cabeça, através de uma ditadura sutil (ou nem tão sutil assim).

O literalismo e o fundamentalismo tentam manter a estabilidade de algo que por natureza está sempre em movimento. Elimina a possibilidade de multiplicidade e de criatividade.

Diante disto, começo a me questionar se o país está ficando esquizofrênico ou se está começando a se curar de uma antiga esquizofrenia. Porque se a esquizofrenia acontece pelo impedimento do questionamento, as pessoas estão começando a se questionar.  Estão começando a debater, estão começando a, através da internet e das mídias sociais, a recuperar a capacidade de se comunicar, de entender e de se fazer entender.

A proposta de Jung para dar conta da esquizofrenia, é dar ouvidos as múltiplas vozes que falam na cabeça do esquizofrênico. Deixar que as vozes se expressem, pois existe um sentido mais profundo em todo delírio, uma tentativa de expressão da psique numa tentativa de recuperar a saúde.  As múltiplas vozes podem ser simbolizadas pelas múltiplas “causas” desta estranha manifestação que está ocorrendo no país. E todas precisam  e exigem ser ouvidas. O aumento da tarifa, a necessidade de melhoria da educação e da saúde, os direitos dos homossexuais, das mulheres, o direito ao protesto e a livre expressão, o direito de ser coxinha, maconheiro, vadia, alienado. O direito de ser de direita. O direito de ser de esquerda. O direito de ter um partido. O direito ao movimento apartidário. Todos podem conviver e existir ao mesmo tempo. Tentar encaixar a manifestação  em  um movimento da esquerda ou da direita, do PT ou PSDB, acreditar que sempre existe uma intenção  oculta de golpe por trás de tudo, achar que é só vandalismo, tudo isto, sim, me parece esquizofrenia.

O que cria a esquizofrenia é a negação da multiplicidade, das múltiplas possibilidades, do eterno fluxo das coisas, das configurações que se criam e se dissolvem e se transformam o tempo todo. O que pode ajudar a mente esquizofrênica a se reintegrar é a aceitação das multiplicidades, assim como o que pode nos ajudar a compreender um pouco melhor o que está acontecendo é permitir que todas as causas se expressem. É a permissão para a indagação, para o questionamento, para o diálogo.

No mais, creio que não exista um jeito certo ou errado de fazer uma manifestação.  Além disso, nem tudo precisa ser entendido pela mente lógica e linear. Nem tudo precisa ser preto ou branco, PT ou PSDB, direita ou esquerda. Nem todo mundo precisa ter partido ou tomar partido. Ser apartidário não precisa significar ser apolítico. Não precisa ser ou isto ou aquilo, pode ser isto e aquilo também.

Talvez tenha chegado a hora de ampliar a consciência, de mudar a forma de pensar, de expandir a mente. O que parece estar acontecendo é uma briga entre o velho e o novo.  Para a astrologia, um reflexo da quadratura entre Urano e Plutão (e sim, isso não explica nada para o pensamento lógico, é só um pensamento por analogia e não uma explicação de causa e efeito). Urano em Áries, representando o novo, e Plutão em Capricórnio simbolizando as velhas estruturas se digladiam no céu e temos que harmonizar estas energias dentro e fora da gente. Nem tudo que é  velho precisa ser destruído com a chegada do novo, mas certas estruturas antigas, ultrapassadas e corroídas, certas formas de pensar obsoletas precisam ser abandonadas.

A vida não precisa ser uma eterna briga entre a direita e a esquerda. Essa mentalidade às vezes me parece ultrapassada, e isso não significa que eu esteja vendo tudo de cima do muro e muito menos defendendo um ponto de vista reacionário, fascista, moralista. Muito pelo contrário. Só acho que precisamos ultrapassar estas polaridades, para vivermos num mundo mais justo,  mais integrado e mais equilibrado.

Concordo também que por enquanto isto ainda é utópico, que existem oportunistas e possibilidades de sabotagens e golpes sim, que existe uma parcela de pessoas interessadas em que nada mude, que tudo permaneça como está, mas podemos pelo menos tentar caminhar na direção de uma mudança, a princípio, na nossa consciência.

Netuno em Peixes gera confusão, loucura, esquizofrenia. Mas também traz a volta das utopias, dos sonhos, dos ideais. Mostra a necessidade de maior inclusão, de melhor comunicação, de aceitação das diferenças. De cura, de compaixão, de união, de não linearidade.

Saturno em Escorpião não permite mais a negação. Expõe aquilo que se tenta ocultar,  nos faz encarar aquilo contra o que a gente tenta brigar, para nos mostrar que nosso maior inimigo reflete uma parte não aceita e reprimida do nosso próprio ser.

Literalidade e fundamentalismo podem gerar esquizofrenia.  Ou é isto ou aquilo. Não pode ser isto e aquilo e mais alguma coisa? Ou é amor ou é ódio, portanto, se sinto ódio e amor ao mesmo tempo, só posso estar louca? Diante da impossibilidade de conciliar as coisas, as pessoas piram mesmo.

E no momento, se há alguma coisa que acho realmente arriscada, é a tentativa de cura que se deu através do movimento ser sabotada pela parte doente deste grande organismo que é o país. Na tentativa persecutória de encaixar o movimento em um golpe da direita ou da esquerda, impõem-se uma regra repressora, um pensamento do tipo isto ou aquilo. As pessoas, sem entender nada, se confundem, começam a se sentir perseguidas, enganadas e o movimento se esvazia. Aí sim, tudo volta a ser como antes e nada muda!

O pensamento do tipo isto ou aquilo, muitas vezes imposto pela mídia ou por outras instituições manipuladoras que querem manter as coisas como estão, é um cabresto, que estamos muito acostumados a usar. Por isso as pessoas, embora se sintam livres ao poder se expressar de forma apartidária, logo também se sentem inseguras e sem lideranças. Aí, a mídia aproveita, e começa a bagunçar a cabeça de todos com ideias de perseguição e enganação, para que o povo se sinta acuado, enganado, envergonhado e pare de se manifestar.

Sendo assim, abaixo todo o tipo de repressão, vamos dar ouvidos a todas as vozes, com um pouco mais de amor, por favor.
















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